Entrevista - Gravidez na Adolescência
Nome da adolescente: Lucimar Pereira dos Reis
Entrevistada por: Sebastiana Lima Feliciano
1° Pergunta: Qual a sua idade atual? 17 anos.
2° Com que idade você engravidou? Aos 15 anos.
3° Como foi está experiência? Muito difícil, pois na época
eu cursava a 8ª série do ensino fundamental, quando descobri que estava
grávida.
4° Você tinha um relacionamento sério? Na época eu achava
que era sério, pois era meu primeiro namorado. Eu já tinha ficado com outros
meninos, mas namoro mesmo foi com o Rafael, que na época tinha 17 anos.
5° Você descobriu o sexo com ele? Sim, descobrimos juntos,
segundo ele.
6° Vocês tiveram orientação sexual? Na escola ou dos pais?
Sim, na escola. Pois meus pais não falavam desse assunto, não sei se por
vergonha ou falta de informação.
7° Se tiveram orientação sexual da escola porque transaram
sem camisinha? Foi coisa de momento, estávamos eufóricos, não pensamos que iria
acontecer com agente, pois foi uma única vez que fizemos sexo sem preservativo.
8° Como foi a descoberta da gravidez? Foi no pior momento da
minha vida, pois na mesma época descobrimos que o Rafael tinha um tumor na
cabeça e eu preocupada com a saúde dele, nem percebi que a minha menstruação
estava dois meses atrasada. Foi quando surgiu enjôos e as tonturas, então minha
mãe me levou ao médico que logo diagnosticou a gravidez. Fiquei sem “chão”,
pois estava a um passo de perder o Rafael que estava de cirurgia marcada e suas
chances não eram boas.
9° Você contou para ele? Eu tentei, mas a mãe dele não
deixou, dizendo que o filho não podia ter mais uma preocupação, que no momento
ele só podia se preocupar com a própria saúde, e ainda me proibiu de vê-lo. Foi
a “morte” para mim, saí da casa dele aos prantos. Me perguntava, o que vou
fazer agora da minha vida? Como vou crias um filho sozinha, se não tenho
emprego para suprir nem as minhas necessidades, como vou conseguir cuidar de
uma criança? Pensei em abortar, mas minha mãe não permitiu e lembro as palavras
dela até hoje: “Você soube fazer, agora vai saber criar”.
10° Qual a sua atitude diante dessa fala de sua mãe? Chorei
muito, parei de estudar e fui trabalhar de doméstica enquanto a barriga
crescia. O Rafael operou, a cirurgia foi bem sucedida e a mãe dele contou para
ele do filho que eu estava esperando. Ele não deu muita importância, pois já
tinham se passado seis meses que não nos víamos, quando a mãe dele permitiu que
eu fosse visitá-lo, a “paixão” dele por mim havia acabado. Eu estava grávida de
oito meses quando descobri que ele foi um grande erro na minha vida. Meu filho
nasceu com saúde, hoje tem dois anos e se chama Lucas.
11° Como você conduziu sua vida depois que o Lucas nasceu?
Tudo ficou mais difícil, pois nem carteira de trabalho assinada eu tinha, então
no período que fiquei de licença maternidade não tinha dinheiro. Dois meses
depois eu voltei a trabalhar de diarista e minha mãe ficava com o bebê para eu
trabalhar.
12° Você levou o bebê para o pai ver? Levei e saí de lá
querendo que ele morresse realmente, pois além de me desprezar, ainda falou que
queria um DNA para ter certeza que o filho era dele mesmo. Assim daria a pensão
para ele.
13° Qual foi sua reação? No momento peguei meu filho e vim
embora com ódio dele, depois já mais calma, com o passar dos dias procurei o
fórum para conseguir um advogado para me ajudar. Uns seis meses depois consegui
o DNA e provei para o Rafael que Lucas era seu filho. Hoje ele paga a pensão e
quase não vê o filho, pois ele não vem aqui em casa vê-lo e eu não levo, pois
minha mágoa dele ainda é muito grande.
14° A saúde dele melhorou? Melhorou, os médicos falaram que
foi um “milagre” ele ter se curado, para mim se tivesse morrido não me teria
feito sofrer tanto.
15° Você acha que esse seu ódio pelo Rafael prejudica seu
filho? Não, pois o pai que ele conhece é o meu pai.
16° Mas quando ele crescer pode te cobrar essa verdade,
concorda? Enquanto ele ainda não entender vou deixando como está, depois eu
conto quando achar que ele já entende.
17° O Lucas chama você de mãe? Não, chama a minha mãe.
18° Você se sente feliz vendo seu filho chamar sua mãe de
mãe e não de vó? Meus pais não tiveram filhos homens, só mulheres, somos três,
acho que estão encantados com a idéia do Lucas ser filho deles. Não fico triste
em ver ele chamando eles de pai e mãe, acho que ele será mais feliz com os meus
pais sendo pais dele, do que seria sendo só meu filho.
19° Então você “deu”seu filho a seus pais? De certa forma
sim, mas pretendo conversar com ele depois sobre isso.
20° Você acha que quanto mais esperar fica mais difícil? Não
sei, vou perguntar aos meus pais o que eles acham.
21° Foram seus pais que o registraram? Não, ele é registrado
no meu nome.
22° Você acha que é mais um motivo para falar a verdade para
ele? Ele ainda é muito pequeno para entender essas coisas, mas um dia eu falo.
23° Diante dessas dificuldades, você teria alguma mensagem
para as meninas da sua idade? Sim, que elas não se deixem levar pelo momento,
pela paixão. Essas coisas passam e as conseqüências ficam/ Eu tenho apenas 17
anos e já vivi momentos que se tivesse me protegido no ato sexual, não teria
passado. Hoje sou uma jovem amedrontada para sexo, pois mesmo com preservativo
eu tenho medo de engravidar de novo e sofrer.
24° Você acha que precisa de ajuda para superar esse medo? Sexo
faz parte da vida e você é muito jovem para ter essa visão. Talvez eu precise
mesmo, mas no momento é assim que vejo o sexo, como um perigo. Que faz parte da
vida eu também sei, mas aço que preciso encontrar alguém para abrir meus
horizontes e me mostrar que a vida é bem mais do que isso que tenho vivido.
Talvez me falte um grande amor e espero que um dia ele venha.
Bianca Santana